Por Lunna Guedes
Editora Scenarium
“mas eu não me importava e seguíamos juntos numa boa
— sem frescuras, sem aporrinhações, andávamos saltitantes
um em volta do outro, como novos amigos apaixonados.”
on the road
Quando Marcelo começou a me enviar o material para o seu novo livro, estava a ler pela milionésima vez ‘on the road’… e não podia imaginar o quão significativo seria esse ‘pequeno detalhe’ — uma ‘espécie de trilha sonora’ na arquitetura de ‘alameda das sombras’… que veio para minhas mãos com outro rótulo — descartado após meia hora de conversa com o Poeta.
Com um punhado de páginas em mãos, percebi que adormecia no papel um sem-fim de versos alinhavados por uma ‘suposta hipótese de paz’…
Sabemos, contudo, que os poetas não têm paz. Eles fingem — como tão bem afirmou outro Poeta… Pessoa.
Em cada verso lido… me deparei com um homem a narrar a realidade e suas muitas tramas — verdadeiros ecos urbanos-noturnos. Inquieto, o Poeta tem olhar faminto, que o faz tragar dezenas de miragens urbanas. Arredio, não dorme… e dispara sua ansiedade em linhas. Insano, não pestaneja: discursa uma ilusória sobriedade.
A poesia de Marcelo Moro se orienta a partir das pegadas que ele traga, conforme pisa o chão da cidade onde vive-mora… seu passo se encaixa facilmente em outros passos. No entanto, às vezes, a fôrma não lhe serve e a forma lhe escapa. O homem não parece habituado à inquietação, mas se rende a uma espécie de serenidade tumultuosa…
Para o leitor, não será nada fácil tragar a poesia de Marcelo Moro… será como embriagar-se numa noite de quarta, durante o futebol, com aguardente — rotulada com nome próprio num boteco entre esquinas. Será preciso despir-se de si e provar de seu rastro… em caminhadas cambaleantes. Alargar o olhar e consumir todas as suas medidas. E, como estamos acostumados a viver a bordo de nós mesmos, espiando os outros de longe, sem vestir-nos do que é alheio… o exercício que a poesia do Poeta de Americana nos propõe, através de suas enxurradas — de sentimentos, tormentos, discrepâncias — em linhas nada retas… pode ser desconcertante.
AVESSO
Brasa encoberta
Esperando ser soprada
Na orelha de Eurídice
A lira mal tocada
Sou tocaia —
…vem e verás o que acontece,
…quando a porta se fecha!
Quando restar essa pequena luz
— azul exuberante…
Nas frestas da alma!
Marcelo Moro, em ‘alameda das sombras’
— Scenarium livros artesanais — 2016
eu falei um palavrão aqui!
Medo de você… rs
Lembrei meu neto Arthur… – Nós somos azuis, não é vô? – É claro! É claro que somos azuis.